No mês de abril, tivemos os Espaços Abertos dos Grupos de Educação Infantil. Nessa Reunião de Pais, temos como objetivo aprofundar as rotinas e a proposta pedagógica da Catavento, além de trazer alguns temas de interesse de cada grupo para reflexão.
“Tia Bruna e equipe, a reunião foi ótima! Parabéns pelo trabalho.” (Paola, mãe do Mateus Lohmann do Maternal)
“Sempre muito bom acompanhar a rotina e o desenvolvimento deles.” (Julia, mãe da Lia Sinder do Maternal)
“Marinez, gostei muito da reunião de 4a. f, percebi o quanto você capta a particularidade de cada aluno. Parabéns a você e a Catavento.” (Juliana, mãe da Alexandra Moreira do Grupo 2)
“Marinez, gostei muito da reunião de 4a. f, percebi o quanto você capta a particularidade de cada aluno. Parabéns a você e a Catavento.”
Juliana
mãe da Alexandra Moreira do Grupo 2
“Infelizmente não consegui participar da reunião hoje, fiquei arrasada!!! As meninas estão amando e Rogério, depois da reunião, mais apaixonado!!! Muito obrigada pelo carinho e toda dedicação à essas crianças!!! A equipe é realmente incrível!! Obrigada.” (Marcella, mãe de Lara e Nina Dal Bello do Grupo 3)
“Muito obrigada pelo carinho e toda dedicação à essas crianças!!! A equipe é realmente incrível!!”
Marcella
mãe de Lara e Nina Dal Bello do Grupo 3
Disponibilizamos abaixo os textos e links dos videos apresentados, alguns dos materiais trabalhados com as famílias durantes os encontros.
– “A importância dos limites” – Maria Tereza Maldonado https://www.youtube.com/watch?t=35&v=LgYZ-xBoyHg
– “High Scope” – Lenira Haddad: https://www.youtube.com/watch?v=uMQ2XjE-oko
ESPAÇOS ABERTOS BERÇÁRIO & MATERNAL
A proteção que atrapalha
ROSELY SAYÃO
O que fazemos com o ambiente da criança? Amaciamos o chão, aliviamos os cantos, retiramos os obstáculos Muitas crianças com menos de seis anos vivem hoje, tanto em suas casas quanto nas escolas, em ambientes tão assépticos que se assemelham mais a hospitais do que a espaços habitados por gente sadia e plena de vida.
Aliás, pesquisadores já relacionaram o aumento de alergias entre crianças das classes média e alta, com a falta de exposição delas aos germes do ambiente natural. É a chamada “alergia do isolamento”.
Hoje, escolas que querem seduzir os pais de filhos que estão na primeira infância se esmeram para apresentar um ambiente que consideram chamativo: limpo e claro, areia tratada (isso quando há areia), sem muitos obstáculos, tampouco terra e água. O chão costuma ser macio e fofo -e para ser assim, precisa ser artificial. Fazem parte desse pacote a abundância de brinquedos de parque de plástico, muito coloridos.
Quando termina o período escolar, dá para se perguntar o que foi que a criança fez durante todo o tempo em que esteve na escola -já que muitas delas são entregues aos pais devidamente “higienizadas”. Até mesmo o discurso escolar acompanha esse clima: as crianças não mais escovam os dentes ou lavam as mãos: elas “fazem higiene”. Que coisa mais louca! Em casa, muitos pais até adotaram o costume oriental de deixar os sapatos à porta e só usar dentro de casa calçados destinados exclusivamente para esse fim. Apetrechos dos mais variados tipos são comprados já no enxoval do bebê que irá nascer, para esterilizar tudo o que ele usa. O problema é que isso se estende por mais de um ano, quando a criança já engatinha, anda e faz a exploração dos espaços. E isso costuma ser a melhor justificativa para tantos cuidados: afinal, nessa fase a criança adora conhecer as coisas pela boca, não é verdade?E como permitir que ela leve para a boca as sujeiras do ambiente?
Quando foi que esquecemos que criança combina com terra, água, vento e fogo? O contato, o conhecimento e a exploração desses quatro elementos é muito importante para que ela crie um vínculo com a natureza, explore-a e aprenda, com essa relação, um pouco mais sobre si mesma e sobre seu corpo. Mexer na areia e lambuzar-se com ela, brincar com a água e a terra, fazer barro e sentir sua consistência, experimentar seu sabor -por que não? Tomar banho de mangueira, sujar-se toda aos olhos dos adultos: tudo isso é possível ainda para a criança, mesmo nesse estilo de vida urbano que adotamos. Mas, parece que escolhemos consumir um determinado tipo de cuidado com a saúde que não combina com nada disso, não é verdade? E o que fazemos, então, com o ambiente em que a criança vive? Retiramos todo tipo de perigo possível: arredondamos os cantos, suprimimos as quinas, amaciamos o chão, retiramos os obstáculos como escadas e aclives ou declives pronunciados e outras coisas mais estranhas ainda.
Tudo para evitar que a criança corra algum risco. Até os brinquedos, agora, precisam ser adaptados à idade da criança! Mas é bom saber que o tiro pode sair pela culatra. Começar a viver em ambientes tão diferentes da realidade apenas tolhe a vida da criança, limita as suas possibilidades de aprender sobre seu corpo e de explorar o meio em que vive. Isso também desestimula sua curiosidade e não a prepara para reconhecer riscos e saber quais podem ser enfrentados e quais devem ser evitados.
Não é à toa que temos tantas crianças que se machucam em situações que elas já deveriam controlar. É bem significativo o número de acidentes com crianças grandes que caem, quebram ossos, levam pontos etc. Elas pouco ou quase nada sabem a respeito do relacionamento delas com o ambiente em que vivem. Também, depois de elas viverem tanto tempo enclausuradas em um mundo almofadado e asséptico, tal resultado não é nada espantoso.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de “Como Educar Meu Filho?” (Publifolha)
ESPAÇO ABERTO BERÇÁRIO
A Importância dos Primeiros Tempos
Os primeiros anos de vida são muito importantes para o desenvolvimento de toda a personalidade da criança e para a aquisição das habilidades motoras, perceptivas, cognitivas, lingüísticas, sociais, etc.
O recém nascido chega ao mundo e já está cercado de cores, sons, formas e texturas. São estímulos por toda a parte: no móbile colorido sobre o berço, no toque da roupa sobre a pele, na água do banho, no seio e na voz da mãe que o amamenta, no colo do pai que embala contando uma história, etc.
Muitas pesquisas mostram que essa profusão de estímulos dos dias atuais torna as crianças mais espertas, atentas, faladeiras, inteligentes. Essa diversidade de estímulos induz à construção de uma arquitetura cerebral mais potente, com mais ligações entre os neurônios – as sinapses. O período de maior formação de sinapses vai até os 3 anos de idade. Assim, a lógica é simples: se o mundo estimula, as crianças fazem mais sinapses. E, em maior número, elas tornam o pensamento mais rápido, afirmam os neuropediatras.
Sabemos hoje, por comprovação da Ciência, o que antes sempre se soube intuitivamente: experiências positivas nos campos emocional, físico e intelectual vividas pelos bebês em seus primeiros anos de vida são tão necessárias para o adequado desenvolvimento de seu cérebro quanto a boa alimentação o é para o adequado e saudável crescimento de seu corpo.
As experiências iniciais da vida dos bebês com o mundo externo, percebidas por seus sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar – determinam a estruturação de seu cérebro, capacitando-o a criar ou modificar conexões e a moldar, assim, a forma com aprenderão, pensarão e se comportarão para o resto de sua vida.
As crianças deslocam-se, manipulam, experimentam, brincam sozinhas, brincam com os outros, comunicam-se e, assim, vão construindo o próprio conhecimento e convertendo-se em seres sociais. Dessa forma, a ação e a interação permitem-lhes conhecer a realidade, representá-la, comunicá-la e modificá-la.
A observação, a experimentação, a imitação e a interação são básicas para chegar à compreensão e à transformação da realidade. O bebê, a princípio, conhece o que o rodeia por ações que realiza, depois atua com imagens e, finalmente, chega a outro sistema de representação: a linguagem verbal.
A interação ativa da criança com o espaço, com os outros e com os objetos permite-lhe conhecer a realidade e a própria identidade. A criança se desloca, manipula, age. Movimento e ação são essenciais na relação dos pequenos com os adultos e com seus iguais, com os objetos, com o espaço e com o tempo. Movimento e ação são a base para a formação da personalidade e incidem na forma de assimilar o mundo, representá-lo e participar dele.
Dessa forma, pensamos que, no papel de pais, responsáveis ou professores de Educação Infantil, precisamos contribuir para propiciar melhor qualidade às experiências iniciais da vida dos bebês. E, para garantirmos esse espaço, compartilhamos idéias sobre alguns aspectos que nos parecem muito importantes e, frequentemente, parecem tão óbvios e cotidianos que podem passar despercebidos.
Sintetizando essas idéias:
- Não basta amarmos as crianças. O amor pode traduzir-se em gestos. Quando somos amorosos, calorosos, responsivos, propiciamos as “conexões seguras”, a base de todas as futuras relações da criança. O toque (estimula a necessária liberação hormonal ao crescimento), a palavra, o sorriso e o canto afetam a maneira como o cérebro da criança vai se “conectar” e ajuda, assim, a delinear o seu aprendizado e seus comportamentos posteriores.
- As crianças muitas vezes não podem ou não utilizam palavras para demonstrar seus humores, preferências ou necessidades. Usam sons, modos de andar, expressões faciais e formas de olhar (ou o evitam) para demonstrar o que desejam. Devemos, portanto, responder às “dicas” e aos sinais das crianças na maior parte das situações, pois elas se tornam mais seguramente “ligadas” quando os adultos que cuidam dela tentam “ler” esses sinais e respondem a eles com sensibilidade. A criança começa a aprender e acreditar que, quando sorri, alguém lhe sorrirá de volta. Quando está aborrecida, alguém a confortará; quando faminta, alguém a alimentará. São as primeiras e, talvez, as mais importantes lições de sensibilidade e solidariedade com o mundo que a cerca.
- Falar, ler e cantar sobre coisas que acontecem no dia-a-dia da criança, descrevendo-as, confere a ela sólidas bases para aprendizados posteriores. Mesmo sem entender o significado das palavras, é mediante essa “conversação” que a capacidade da linguagem aparece. Quando o bebê ouve repetirem e repetirem as mesmas palavras, a região do cérebro que gerencia a fala e a linguagem se desenvolve. Quanto maior a conversação, mais essa parte do cérebro se desenvolve. Vale dizer, contar as mesmas histórias e cantar as mesmas músicas vezes seguidas, todos os dias, pode ser chato para o adulto, mas não para a criança. Além de ela gostar, aprende pela repetição. E isso não ocorre apenas com a linguagem.
- Estabelecer rotinas e rituais é importante. As rotinas associadas a sentimentos agradáveis são tranqüilizadoras para as crianças. Por exemplo, uma criança de 1 ano e meio sabe que é hora da soneca porque sua mãe cantou “Nana Nenê” e fechou as cortinas, o que ela sempre faz. Experiências positivas repetidas, que formam fortes conexões entre neurônios, conferem à criança a sensação de segurança, além de a fazerem aprender o que esperar de seu ambiente e como entender o mundo ao seu redor.
- Permitir e estimular a exploração e as brincadeiras, e também ser receptivo quando a criança sentir necessidade de retornar aos seus limites para se sentir segura. Brincar é, sem dúvida, um real aprendizado de “dar e receber”, de negociar, de exploração do próprio corpo e do mundo físico, de desenvolvimento de habilidades lógico-verbais. Brincar é essencial à interatividade, à criatividade e à aprendizagem.
- Usar a disciplina como forma de ensinar. Conforme as crianças crescem, seus horizontes e sua curiosidade a respeito do mundo se ampliam e surgem novas descobertas e experiências que, algumas vezes, acarretam confusão e frustração, até mesmo de forma intensa. Nesse processo, elas necessitam de limites e supervisão cuidadosa e amorosa. Estudos e pesquisas revelam que a forma como os adultos estabelecem essa disciplina é crucial no desenvolvimento posterior da criança. Nossas crianças são naturalmente impulsivas e, sem noção de perigo, irão machucar-se, cair ou gritar porque seu sentimento de frustração e raiva por vezes excede a sua habilidade de controlar a si mesmas. Ensiná-la a ter autocontrole é um longo processo.
- Reconhecer que o bebê é único. Crianças têm diferentes temperamentos e diferentes velocidades de amadurecimento. Suas idéias a respeito de si mesmas refletem, grosso modo, nossa atitude em relação a elas. Quando superam os desafios do dia-a-dia, sentem-se bem consigo mesmas, e particularmente com o nosso reconhecimento e aprovação. Conseguem, dessa forma, enxergar a ligação entre as ações delas e a nossa resposta. Pais e professores que forem sensíveis a esses sinais e dicas terão crianças com auto-estima positiva.
Propiciar o atendimento de excelência para educar as crianças até 3 anos é, então, um dos primeiros passos das famílias e das instituições que atendem a criança.
Educar crianças pequenas é um dos mais importantes, maravilhosos e desafiadores trabalhos em nossa sociedade.
Fonte: “ENTRE FRALDAS, MAMADEIRAS, RISOS E CHOROS: POR UMA PRÁTICA EDUCATIVA COM BEBÊS” – Cleide V. M. Batista – Londrina: Maxiprint / 2009
ESPAÇOS ABERTOS GRUPOS 1, 2 & 3
Que lindo seria se nós pudéssemos ensinar a nossas crianças que é preciso esperar…
Por Carolina Delboni
Criança não espera. Elas enlouquecem a gente até que cedemos e damos algo, literalmente, pra que fiquem quietas. Mas nós adultos já aprendemos a esperar (e aprendemos quando criança). Hoje, nossa espera é vivida. A deles é com o iPad ou a TV na cara ligada – e com som ainda. Pais não sentam mais a mesa num restaurante sem que antes já liguem o desenho para a criança. Muitas vezes colocam o iPad dentro do prato.
Simbolicamente, estão trocando os alimentos. Alimentar uma criança com comida é alimentá-la com amor e de amor. Alimentá-la com imagens e sons de iPad é alimentá-las de impaciência, falta de respeito, falta de dialogo, falta de interação e principalmente, falta de tédio. Porque pode ser extremamente tedioso ficar a mesa “sem fazer nada” esperando a comida chegar. Mas é nessa espera que aprendemos a transformar tédio em algo maior como a conversa com os pais.
Recentemente saiu uma entrevista muito interessante no R7 (que repercutiu pacas em sites e blogs), onde a médica fonoaudióloga carioca Maria Lúcia Novaes Menezes fala da quantidade assustadora de crianças que têm recebido em seu consultório com a queixa de não se comunicarem por volta dos 2/3 anos de idade. Ela diz que em 80% dos casos a criança simplesmente não fala porque não recebe estímulos dos pais. Porque não existe dialogo, não existe troca. Existem ipads nas mesas dos restaurantes e com isso crianças que crescem mudas e sem a capacidade de aprender a esperar.
Aparentemente, tentar agradar toda hora (ou muitas vezes temer o próprio filho) é o primeiro passo pra rejeição. Você tira dele a possiblidade de fazer ninhos, fazer laços. A criança se isola primeiro dos pais e logo mais do restante da família e até mesmo dos amigos. Ela perde, aos poucos, a capacidade de se relacionar e se comunicar. Acredite se quiser, tudo isso porque interrompemos o processo da espera. Porque estamos sempre ansiosos para preencher o tempo de nossos filhos e não deixa-los entediados. Etimologicamente, o verbo “esperar” vem de “esperança” que significa contar com, confiar em. Quando a criança espera e tem pais ao lado dela reafirmando a necessidade da espera, ela ganha confiança. E um pouquinho de tédio não mata ninguém.
Ah, a espera…. Que lindo seria se nós pudéssemos ensinar a nossas crianças que é preciso esperar as pessoas saírem do elevador antes de nós entrarmos, que é preciso esperar os que estão na nossa frente para chegar nossa vez, que é preciso esperar todos terminarem na mesa para poder levantar, que é preciso esperar crescer para ter o que se quer… Que é preciso aprender a esperar para respeitar o próximo, para convivermos, minimamente, melhor num mundo onde não existe mais o outro porque o “eu” é tão imediatista que se eu não suprir minhas vontades já eu morro. Daí ensinamos nossas crianças que o outro não importa, que conseguimos fácil e rápido tudo que queremos com um gritar, com um chilique. Tiramos a espera e junto tiramos a possibilidade da conquista. Ganhar de mão beijada não tem graça. Logo a criança encosta e pede outro e a insatisfação vai crescer. E para suprir será cada mais difícil.
A espera gera expectativa do que está por vir. Espera gera respeito, gera noção do próximo, gera dialogo, gera estímulos, gera confiança, gera amizades e, com certeza, gera um mundo melhor. Desculpem a frase feita, mas é isso mesmo: crianças que aprenderem a esperar vão aprender a viver em sociedade e na sociedade. Como parte dela e não no centro dela. Requisito básico para um futuro que todos queremos.
Carolina Delboni Favoritar – Jornalista, diretora da small.co, gestora do SP Future Kids e mãe de 3 meninos
ESPAÇO ABERTO GRUPO 1
A LEITURA E A ESCRITA DO MUNDO DA CRIANÇA DE 2 À 6 ANOS
Este texto está estruturado em alguns tópicos que a meu ver abrangem o trabalho com a criança na faixa etária de 2 à 6 anos, tendo foco central a leitura e a escrita do mundo.
O que é leitura e escrita do mundo para a criança.
Ler, não é só ler palavras e, escrever, não é escrever palavras. Há vários tipos de instrumentos de leitura e escrita.
A criança já lê de uma forma ampla, o mundo, desde que nasce, através de indícios e depois de símbolos. Através do cheiro uma criança sabe onde está a mãe (indício); “se carrego a lancheira ao sair de casa”, é hora de escola; “se ponho o casaco”, está na hora de ir embora; “se vejo minha mãe com uma cara brava”, é não. Vários tipos de leitura de indícios como estes, vão sendo exercitados pela criança desde um ano e meio, mais ou menos.
Depois a criança passa para um novo patamar de leitura utilizando além dos indícios, os símbolos. Numa marca conhecida, ela já detecta mensagens simbólicas reconhecendo seu significado. Por exemplo, o símbolo da lancheira representando hora do lanche. Este é o caminho para se chegar à leitura da palavra que já é um signo, ou seja, uma marca arbitrária construída historicamente. Por exemplo, a leitura e a escrita da palavra “casa” são iguais para todas as pessoas. O signo aparece historicamente com a função primordial de comunicação, daí seu caráter social e coletivo.
Assim, a criança, já tem bastante conteúdo armazenado para a leitura e a escrita, antes de entrar na escola.
Concepção da Educação
Nesta concepção de educação, ler e escrever são atos de pensamento.
Ler, aqui, é visto como ato de pensar uma mensagem para decifrá-la. Numa outra, ler é decorar, copiar mecanicamente. Nesta concepção, ler é uma ação interna, um ato de questionamento para compreensão da realidade, pois, os sujeitos criança e professor conhecem e aprendem numa ação de pensamento que é a interna. Ninguém pode fazer isso por eles. Decifrar aqui é um entendimento da realidade.
E o que é escrever dentro desta concepção? Escrever é marcar, registrar a mensagem pensada, decifrada e transformada. É um registro do pensamento, da história, tanto a nível individual como de grupo. Quando falamos de sujeito, falamos também do processo de construção da história, já que o homem é um ser “geneticamente” social (Wallon). A escrita é um prolongamento, um apoio da memória. A escrita me permite voltar para poder pensar melhor, pois é pensamento registrado. Nunca leitura e escrita são iguais ao longo do tempo, pois o sujeito se transforma e, a cada momento, ele dispõe de esquemas diferentes de compreensão da realidade que lhe permite uma leitura diferente do mundo.
Instrumentos de Leitura e Escrita do mundo
Por onde a criança lê e escreve? Neste sentido amplo em que estamos falando, a criança lê e escreve através das linguagens corporal, musical, plástica e gráfica, onde a palavra se insere.
A criança já exercita a leitura e a escrita simbólica do mundo, através das linguagens simbólicas, antes da leitura da palavra. É assim que ela tece a evolução do indício, do símbolo, até construir o signo.
Os instrumentos fundamentais desta construção da leitura e da escrita são: imitação, imagens mentais, desenho, jogo e, principalmente, a linguagem. (Piaget, Vygotsky).
É através desses instrumentos que a criança pensa, conhece e elabora suas leituras e escritas.
É justamente através desses instrumentos que a pré-escola, a meu ver, tem o eixo fundamental do trabalho: a construção da capacidade de representação.
O que é o Desenho
É registro. É a primeira marca do pensamento da criança. É a sua primeira escrita. O desenho registra o que a criança pensa, conhece e quer conhecer, pois ainda não sabe.
É um ato de pensamento sendo uma construção de símbolos internos.
Só podemos pensar a realidade através da mediação dos símbolos, ou seja, através do processo de representação da realidade.
São os símbolos e signos que, representando o real, me permitem pensar. (Vygotsky)
Desenho é um “texto”. Um texto não se compõe só de palavras. Ele ocorre também ao nível do desenho e do jogo, pois significa retrato da ação pensada (retrato através do gesto no ar, da marca no papel ou da palavra).
Cabe ao educador discutir o texto. Pois, nesta concepção de educação, a função do educador é aprofundar o pensamento, a reflexão do sujeito através da intervenção que ilumina os pontos que necessitam de enriquecimento. Intervir, nesta concepção, é ampliar o conhecimento que está por trás daquele já revelado pelo educando.
O ato de educar, nesta concepção de educação, é um ato de conhecer, aprender e ensinar permanentemente. Conhecer, aprender e ensinar não são dicotomizados.
Como se dá à intervenção do educador frente ao texto da criança? Primeiro ele precisa saber em que hipóteses evolutivas, no processo de construção, a criança está. Que fases ela passa. Que coisas ela elabora. Pois, se o educador não tem esse conhecimento, ele não sabe como intervir. Intervir é clarear para aprofundar a reflexão do sujeito.
Todo educador, que faz uma intervenção nesse sentido, é sempre diretivo, pois tem uma direção a perseguir, uma meta onde quer chegar. O importante é que a intervenção e a diretividade não sejam autoritárias, mas sim baseadas na autoridade do conhecimento que o educador tem das hipóteses do sujeito educando e da sua ação instrumentalizadora. Em qualquer outra concepção a intervenção é autoritária, pois, o educador determina o que dar sem levar em conta o educando, ignorando que só se aprende a partir daquilo que se sabe, ou seja, que aprender é uma ação de construção interna do sujeito.
Como organizar a discussão do texto, no caso, o desenho?
Se desenho é pensamento, nada melhor do que desenhar para trabalhar o pensamento e a mão todos os dias.
Faz-se necessário um planejamento de como acompanhar e instrumentalizar esse trabalho com as crianças. Há várias maneiras. Em fila, na roda, algumas crianças por dia, no caso de classes numerosas, etc. Mas, é fundamental a ação do professor fazendo a leitura e intervenção junto às crianças, assumindo sua função de autoridade sustentadora do processo de construção do conhecimento das crianças.
Gostaria de levantar a questão do “desenho livre”. Uma atividade comum nas escolas hoje em dia e que é fruto de uma interpretação superficial da necessidade do respeito “a verdade”, a expressão da criança. O “desenho livre” é tão autoritário quanto a imagem impressa, que castra o pensamento da criança, pois abandonar o acompanhamento é privar a criança da apropriação de seu processo para aprofundá-lo e chegar à conquista do produto.
(*) O sujeito é uma totalidade cognitiva, afetiva e social. (Wallon)
Se o desenho é pensamento, pensamento que deve ser ampliado e instrumentalizado pela intervenção do professor, o que significa desenho mimeografado?
Desenho impresso é um exemplo de uma intervenção autoritária do professor, pois, impede o pensamento da criança. Ele é uma cópia imposta que inibe a construção do texto da criança não levando em conta a hipótese que a criança está vivendo. A criança passa a pensar: “Eu não sei desenhar” e, como desenhar e pensar caminham juntos, ela acaba achando “que não sabe pensar”.
Além disso, o professor fica impedido de fazer a leitura através do desenho, registro de pensamento, da hipótese em que a criança está.
Com relação a esta questão da intervenção espontaneista do professor (que também é autoritária, como vimos na questão do desenho livre), gostaria de esclarecer um ponto, que, acredito, tem confundido a ação do professor.
A meu ver, é preciso distinguir a diferença entre interesse, vontade e necessidade, que vêm envolvidos pelo desejo. Às vezes querendo respeitar a criança, acabamos confundindo a vontade (que precisa ser educada), com o interesse e a necessidade que precisam ser alicerçadas pelo professor.
Ler o interesse genuíno da criança é aprendizado permanente.
A vontade é o que emerge primeiramente no comportamento da criança, pois é o desejo ainda em embrião: “eu quero”, “eu gosto”. O educador precisa ler e diagnosticar, se é hora ou não, para que esta vontade seja satisfeita.
Texto escrito por Madalena Freire
ESPAÇO ABERTO GRUPO 2
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Magda Soares – Revista Pátio Educação Infantil – Ano VII – Nº 20 – Oralidade, alfabetização e letramento – Jul/Out, 2009 ArtMed.
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Curiosamente, atividades bastante comuns na educação infantil – os rabiscos, os desenhos, os jogos, as brincadeiras de faz-de-conta – não são consideradas atividades de alfabetização, quando representam, na verdade, a fase inicial da aprendizagem da língua escrita, constituindo, segundo Vygotsky, a pré-história da linguagem escrita: quando atribui a rabiscos e desenhos ou a objetos a função de signos, a criança está descobrindo sistemas de representação, precursores e facilitadores da compreensão do sistema de representação que é a língua escrita.
A vivência de representações semióticas, não propriamente linguísticas, são um primeiro passo em direção à representação da cadeia sonora da fala pela forma gráfica da escrita. Uma lata de sardinha que se torna um signo de representação de um trem é, na interpretação de Vygotsky (1984), uma operação cognitiva precursora e preparatória do mais complexo e abstrato processo de atribuição de signos aos sons da fala, ou seja, do processo de conceitualização da escrita como um sistema de representação.
Essa fase considerada a pré-história da escrita explica por que a criança pequena supõe estar escrevendo quando está desenhando ou quando está fazendo rabiscos e garatujas, nesse caso muitas vezes tentando imitar a escrita cursiva dos adultos, o que já representa um avanço em seu processo de alfabetização – um reconhecimento da natureza arbitrária da escrita. É o primeiro nível, entre os níveis por que passam as crianças em seu processo de conceitualização do sistema alfabético, identificados tão claramente por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (2001): níveis icônico e da garatuja, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
Quase todos esses níveis, se não todos, ocorrem, ou podem ocorrer, na educação infantil: lembremos que Ferreiro e Teberosky identificaram os níveis investigando comportamentos de crianças de 4, 5 e 6 anos. Como comprovam inúmeras pesquisas e observações em instituições de educação infantil, as crianças de 4 e 5 anos, com raras exceções, evoluem rapidamente em direção ao nível alfabético se são orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e sempre de natureza lúdica, característica necessária na educação de crianças pequenas: escrita espontânea, observação da escrita do adulto, familiarização com as letras do alfabeto, contato visual frequente com a escrita de palavras conhecidas, sempre em um ambiente no qual estejam rodeadas de escrita com diferentes funções: calendário, lista de chamada, rotina do dia, rótulos de caixas de material didático, etc.
Mesmo atividades muito presentes na educação infantil, via de regra consideradas apenas por sua natureza lúdica – a repetição de parlendas, a brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a memorização de poemas -, são passos em direção à alfabetização porque, se forem orientadas nesse sentido, desenvolverão a consciência fonológica, um aspecto fundamental para a compreensão do princípio alfabético: se o sistema alfabético representa os sons da língua, é necessário que a criança torne-se capaz de voltar sua atenção não apenas para o significado do que fala ou ouve, mas também para a cadeia sonora com que se expressa oralmente ou que recebe oralmente de quem com ela fala; que perceba, na frase falada ou ouvida, os sons que delimitam as palavras, em cada palavra, os sons das sílabas que constituem cada palavra, em cada sílaba, os sons e que são feitas.
Várias pesquisas comprovam a correlação entre consciência fonológica e progresso na aprendizagem da leitura e da escrita. Portanto, jogos voltados para o desenvolvimento da consciência fonológica, se realizados sistematicamente na educação infantil, criam condições propícias e, inclusive, necessárias para a apropriação do sistema alfabético.
Letramento na educação infantil
A leitura frequente de histórias para crianças é, sem dúvida, a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Se adequadamente desenvolvida, essa atividade conduz a criança, desde muito pequena, a conhecimentos e habilidades fundamentais para a sua plena inserção no mundo da escrita.
Por um lado, esta é uma atividade que leva a criança a se familiarizar com a materialidade do texto escrito: conhecer o objeto livro ou revista, descobrir que as marcas na página – sequências de letras – escondem significados, que textos é que são “para ler”, não as ilustrações, que as páginas são folheadas da direita para a esquerda, que os textos são lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo, que os livros têm autor, ilustrador, editor, têm capa, lombada… Por outro lado, a leitura de histórias é uma atividade que enriquece o vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de textos escritos, de inferência, de avaliação e de estabelecimento de relações entre fatos. Tais habilidades serão transferidas posteriormente para a leitura independente, quando a criança tornar-se apta a realizá-la.
Naturalmente, para que a leitura oral de histórias atinja esses objetivos, não basta que a história seja lida. É necessário que o objeto portador da história seja analisado com as crianças e sejam desenvolvidas estratégias de leitura, tais como: que a leitura seja precedida de perguntas de previsão a partir do título e das ilustrações; que seja propositadamente interrompida, em pontos pré-escolhidos, por perguntas de compreensão e de inferência; que seja acompanhada, ao término, por confronto com as previsões inicialmente feitas, por meio da avaliação de fatos, personagens, seus comportamentos e suas atitudes.
Outros gêneros de textos também devem ser objeto de leitura do adulto para as crianças: textos informativos (que podem ser lidos em busca de conhecimentos que as crianças revelem não ter, mas desejam adquirir), textos injuntivos (que orientam a prática de jogos e os comportamentos), textos publicitários, textos jornalísticos, histórias em quadrinhos, etc. Ou seja, na educação infantil, a criança pode e deve ser introduzida a diferentes gêneros, diferentes portadores de textos. Além disso, pode-se levá-la a identificar o objetivo de cada gênero, o leitor a que se destina, o modo específico de ler cada gênero.
Do mesmo modo, atividades de letramento com a escrita podem e devem ter presença frequente na educação infantil. A todo momento, surgem oportunidades de registrar algo como apoio à memória, de ditar para o adulto uma carta que se quer enviar a alguém, de construir um cartaz sobre um trabalho desenvolvido. Enfim, são inúmeras as situações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função da escrita para fins diversos e a utilizem em práticas de interação social.
Integrando alfabetização e letramento
A discussão sobre alfabetização e letramento em dois tópicos, como feito neste artigo, pode suscitar a ideia de que são componentes da introdução da criança no mundo da escrita a serem desenvolvidos separadamente. Contudo, não deve ser assim. Embora as atividades de alfabetização e letramento diferenciem-se tanto em relação às operações cognitivas por elas demandadas quanto em relação aos procedimentos metodológicos e didáticos que as orientam, essas atividades devem desenvolver-se de forma integrada. Caso sejam desenvolvidas de forma dissociada, a criança certamente terá uma visão parcial e, portanto, distorcida do mundo da escrita.
A base será sempre o letramento, já que leitura e escrita são, fundamentalmente, meios de comunicação e interação, enquanto a alfabetização deve ser vista pela criança como instrumento para que possa envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. Assim, a história lida pode gerar várias atividades de escrita, como pode provocar uma curiosidade que leve à busca de informações em outras fontes; frases ou palavras da história podem vir a ser objeto de atividades de alfabetização; poemas podem levar à consciência de rimas e aliterações. O essencial é que as crianças estejam imersas em um contexto letrado – o que é uma outra designação para o que também se costuma chamar de ambiente alfabetizador – e que nesse contexto sejam aproveitadas, de maneira planejada e sistemática, todas as oportunidades para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que elas já vinham vivenciando antes de chegar à instituição de educação infantil.
Magda Soares é doutora em Educação e professora da Faculdade de Educação da UFMG: mbecker.soares@terra.com.br
http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/principio-nome-422885.shtml
NO PRINCÍPIO, É O NOME
Jogos e listas que usam como base o nome próprio são uma ótima estratégia para iniciar a alfabetização na pré-escola
A turma de 4 anos da EM Presidente Médici, em Itaetê, a 407 quilômetros de Salvador, está dando os primeiros passos no processo de alfabetização. O trabalho, apoiado nas descobertas da psicogênese (o estudo da origem e do desenvolvimento da escrita), usa o nome próprio como ponto de referência para que as crianças confrontem suas idéias sobre a língua escrita. Além de identificar as pessoas e ser a palavra mais conhecida pelos pequenos, o nome é um modelo que fornece informações a criança sobre as letras e sua quantidade, variedade, posição e ordem, diz a educadora argentina Ana Teberosky no livro Psicopedagogia da Linguagem Escrita. Dominar o próprio nome, o dos colegas e o dos familiares é abrir caminho para conhecer o alfabeto completo.
Uma das atividades mais eficientes é o uso de listas. Mas, para que elas contribuam para o aprendizado, é preciso que levem as crianças a comparar e relacionar a escrita de seu nome com a dos colegas. Há várias formas desafiadoras de fazer isso: procurar o próprio nome na hora da chamada, encontrar os aniversariantes do mês, separar nomes de meninos e meninas. Em Itaetê, a opção da professora Isana da Silva Landulfo foi desenvolver uma atividade de leitura e escrita de nomes. A tarefa, que começa com a leitura do nome de um amigo, termina com algumas crianças escrevendo o próprio nome sem a ajuda de modelos. Além da orientação da professora, os pequenos contam com um alfabeto acima do quadro, letras móveis e fichas com os nomes completos.
ESPAÇO ABERTO GRUPO 3
O QUE É LETRAMENTO?
Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente
O tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser.