Os Espaços Abertos são Reuniões Pedagógicas que acontecem no início do ano e ao final de cada período do Ensino Fundamental, tendo como objetivo discutir temas de interesse das famílias, apresentar o trabalho pedagógico e entregar as atividades avaliadas e boletins dos Períodos.
No mês de setembro, tivemos mais um encontro com as famílias e encaminhamos abaixo os textos debatidos para reflexão:
Espaço Aberto – Turma 1A
9 FORMAS DE FAZER SEU DIA A DIA COM AS CRIANÇAS SER MAIS LEVE
Você pode deixar seu filho andar descalço pela casa, não surtar se ele se arranhar brincando e sofrer menos pensando que foi injusto ele tomar uma bronca do professor
Cíntia Marcucci
Pare para pensar em tudo o que você deseja para seu filho e como vai fazer para pôr isso em prática. Tente colocar no papel. Provavelmente entre as coisas que você escreveu estão fazer com que ele não adoeça, não se machuque, fique sempre em ambientes seguros e com pessoas de confiança, tenha a melhor educação do mundo, esteja preparado para se destacar na vida adulta, cerque-se de amigos incríveis, possa ter tudo o que você não teve e seja feliz, sempre. Até aí, nada de errado. Afinal, se qualquer pessoa deseja tudo isso para alguém que ama, que dirá para um filho.
Mas será que, na melhor das intenções, você não está exagerando um pouco na proteção, nas expectativas que coloca na criança e na cobrança que faz de si mesmo, como pai e mãe?
De fato, essa ânsia em querer ser o melhor pai do planeta, que acaba às vezes sendo prejudicial para o desenvolvimento dos pequenos, é bem comum. Quem afirma isso é a psicóloga norte-americana Wendy Mogel, mãe de duas meninas, Susanna, 26 anos, e Emma, 22, especialista em família, estudiosa das relações entre filhos e pais e autora de dois best-sellers sobre educação e comportamento nos Estados Unidos: The Blessing Of a Skinned Knee (A Benção de um Joelho Ralado, em tradução livre) e The Blessing of a B-minus (A Benção de um B-, ou seja, uma nota na média), ambos inéditos no Brasil.
Pensando em ajudar esses pais de um jeito muito bem-humorado, a psicóloga fez uma paródia de grupos como os Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, oOverparenting Anonymous – For Those Who Feel Powerless Over Overindulgence, Overprotection, Overscheduling and Expectations of Perfection (ou Pais Superprotetores Anônimos – Para os Pais que se Sentem Impotentes para Combater a Ânsia de Mimar, Superproteger, Superocupar e Ter Altas Expectativas de Perfeição). “É como se os pais fossem mesmo viciados em seus filhos, em fazer com que vivam uma vida perfeita”, explica. Inspirados nos passos para ajudar viciados a deixar de lado o álcool ou as drogas, ela criou 13 tópicos para que mães e pais reflitam e tenham uma postura mais tranquila em relação à família. Com a ajuda de Wendy, CRESCER adaptou nove desses passos, que são voltados para crianças pequenas, para a realidade brasileira. Quem sabe eles ajudam você a não cair no vício da família perfeita?
1 – Antes de se aborrecer, criticar, elogiar ou explicar demais, pense: “Por que estou falando isso?”
“Ouça quatro vezes mais do que você fala, simples assim”, diz Wendy. Se seu filho chegar em casa reclamando que o colega bateu nele, antes de dizer “vou falar com a mãe dele”, pergunte o que aconteceu, como foi, o que estavam fazendo. Uma criança não pode bater na outra, claro, mas, às vezes, seu filho arrancou o brinquedo da mão do colega, então o papo fica bem diferente…
2 – Esteja alerta, mas não fique sempre desesperado
Repetir para si mesmo: “Só por hoje não vou me alarmar se meu filho cair e ralar o joelho. Só por hoje não vou sofrer demais se ele chorar na escola quando eu for embora”. Observe primeiro. Veja como ele reage, se consegue se levantar, se o choro passa rápido, se ele passa muitos dias chateado. Só depois tome atitudes. Wendy conta uma história curiosa que viu nas escolas dos EUA. “No armário de primeiros socorros havia toalhinhas vermelhas para limpar os machucados das crianças para que elas não se assustassem ao ver o sangue. É uma superproteção extrema! Além disso, a maioria dos pequenos adora ver sangue, pois é colorido, interessante. Eles precisam ver para aprender sobre o próprio corpo e como ele se cura.”
3 – Não confunda o que a criança quer com o que ela precisa
Dispensa grandes explicações, não é? Para ficar em um exemplo simples, seu filho não precisa que você o defenda se ele brigar com o primo. Mas ele bem que quer que você faça isso…
4 – Entenda que as notas ou o desempenho do seu filho não é igual à sua nota como mãe ou pai
Separe as coisas. Você e seu filho são indivíduos diferentes, com características diversas e, embora o que um faça interfira diretamente na vida do outro, as coisas não são assim tão pão, pão; queijo, queijo. Por isso, relaxe. Às vezes seu filho não é bom nas atividades físicas, mas vai ser o cara que mantém a turma de amigos junta. Abra seus horizontes para entendê-lo e suavize a autocobrança.
5 – Aprenda a amar as palavras “tentativa” e “erro”. Deixe seu filho errar muito antes da vida adulta
Tem coisas que você só aprende experimentando. Isso gera autoconfiança, ensina a agir nas diversas situações, a testar e a achar o melhor caminho. “Nos Estados Unidos têm muitos grupos de mães que estimulam as crianças a se desenvolverem. Em um deles, um bebê de 8 meses estava tentando pegar uma bola e não conseguia. A mãe teve o impulso de pegar a bola e dar ao filho. Então a monitora explicou que ela devia se sentar sobre as próprias mãos e só olhar. O menino começou a se mexer e enrugou o edredom sobre o qual estava brincando. Isso balançou a bola, que foi na direção dele e ele conseguiu agarrá-la. Não tinha expressão mais feliz do que a dele naquele momento”, conta Wendy.
6 – Não tente consertar o que não está quebrado. Aceite a natureza de seu filho. Se ele tiver talento para ser um ótimo cozinheiro, não peça a ele que seja um médico
Seu filho é um pouco tímido? Tem dificuldade de parar quieto e prestar atenção no que os outros falam? Pense se isso não é uma característica dele. “Nem todas as crianças vão ser boas com idiomas, ou se comportarão do mesmo jeito. Isso não é sempre motivo para ir a um psicólogo ou dar remédio. Estamos toda hora procurado algo para culpar e soluções rápidas. É preciso ter mais paciência antes de tomar atitudes”, diz.
7 – Lembre-se: decepções fazem parte da preparação para a vida adulta
Quando seu filho for excuído de uma brincadeira, não cair na classe dos colegas que ele gosta ou ficar na última fileira da apresentação de balé, não tente reverter a situação a qualquer custo.
8 – Dê ao seu filho tempo para brincar. E evite que depois ele diga que teve a infância roubada
Procure deixar espaços realmente livres na agenda do seu filho, para que ele faça o que quiser ou não faça nada. E deixe que ele se sinta entediado de vez em quando, para aprender a lidar com essa sensação, que será comum durante toda a vida dele. “A dificuldade desse passo é ir contra ao que todos os outros pais estão fazendo. Se você tem condições financeiras e decide não matricular seu filho na natação, no inglês e nas aulas de pintura, muitas pessoas vão dizer que você é negligente, como se não estivesse dando o melhor para a criança. Meu conselho é: seja forte nas suas decisões.”
9 – Coloque a máscara de oxigênio em você antes de colocar nas crianças
Nada como você estar feliz e bem resolvido para seu filho se sentir do mesmo jeito. Por isso, cuide de si mesmo! Encontre tempo para sair com os amigos, para fazer algo de seu interesse. Permita-se ter preguiça de dar banho nele depois daquela festa e ir para cama com os pés sujos (só por hoje!), finja que não viu aquele amendoim que ele enfiou na boca e estava no chão sabe-se lá quantos anos. E, não, ele não vai ficar doente por ir descalço até a cozinha buscar um copo de água. Para ele ter independência no futuro, passeiem juntos, a pé, de bicileta, de transporte público. Seu filho aguenta aprender tudo isso. Ele só precisa da sua ajuda. De leve!
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI336174-15546,00.html
Espaço Aberto – Turmas 2A e 2B
QUANDO A ESCOLA DEIXAR DE SER UMA FÁBRICA DE ALUNOS
Catarina Fernandes Martins
A escola de massas, onde um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar dezenas de alunos, nasceu com a revolução industrial mas chegou ao século XXI. Em dois séculos, mudaram os estudantes, mudou a sociedade e mudou o mercado de trabalho. Quando mudará a escola?
A escola do ano 2000 imaginada pelos ilustradores franceses Jean Marc Cotê e Villemard em 1899
Crianças sentadas em fila, olhando para frente. Mãos cruzadas em cima da mesa, numa postura inerte. A secretária do professor fica no extremo esquerdo da sala de aula. Não está a ensinar. Os alunos têm uns capacetes de metal, ligados por uns cabos eléctricos a uma máquina onde o professor coloca uns livros. A função desse aparelho, compreende-se pela imagem, é a de extrair a informação dos manuais e introduzi-la directamente nos cérebros dos jovens, através da transmissão da energia eléctrica. Foi assim que os ilustradores franceses Jean Marc Cotê e Villemard imaginaram e retrataram a escola do ano 2000, num postal que era parte de uma série produzida para a Exposição Universal de Paris, em 1900.
Há muito tempo que a escola se concentra em ensinar aos alunos as competências básicas da matemática, da escrita e da leitura. Agora, estas aprendizagens básicas já não são suficientes. No livro The global achievement gap, Tony Wagner, investigador de Inovação na Educação no Centro de Tecnologia e Empreendedorismo da Universidade de Harvard, descreve o que está a ser ensinado aos jovens nas escolas, por oposição ao que eles deveriam estar a aprender para triunfarem nas suas carreiras, numa economia global.
Wagner defende que a escola deve desenvolver sete “competências de sobrevivência” necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação.
Teresa Franco, por exemplo, tem 15 anos a partir de Setembro vai frequentar o 10.º ano no Liceu Rainha Dona Amélia, em Lisboa. Decidir-se por uma área de estudos foi complicado, diz: “Não tenho a certeza de nada porque não tenho experiência.”
Quem sabe se por causa das dificuldades que teve em decidir-se por um curso, Teresa defende que a escola deveria promover a interação com pessoas com experiência nas diferentes áreas profissionais. Defende que aquilo que faz mesmo falta na escola é uma componente mais prática. Até aos seis anos, frequentou uma escola inglesa, a English Preparatory School. Como explica a sua mãe, Cristina Rebocho, o ambiente era descontraído e a autoestima das crianças estimulada: “Ensinavam muito através da brincadeira.” Os momentos de avaliação aconteciam de forma discreta. As crianças pensavam que estavam a fazer uma ficha de exercícios normal, quando, na verdade era um teste, e assim não ficavam tão nervosos. Teresa pensa que os anos que passou nesta escola lhe deram “estruturas sólidas”. Também por causa dessa experiência, está convencida de que o ensino deveria ter uma base artística. Alguns colegas dizem-lhe que tinham jeito para as artes quando eram pequenos, mas como não tinham tempo foram-no perdendo. Para Teresa, é uma pena porque, diz, as artes “são muito úteis para que nos consigamos expressar e estar mais à vontade na relação com os outros. E são libertadoras”.
Quando se fala em mudar a escola e a educação, muitos políticos, educadores e pedagogos referem, de uma maneira geral, o sistema educativo finlandês. Não é por acaso: a Finlândia ocupa o primeiro lugar ou os lugares cimeiros nas diferentes categorias testadas pelo Programme for International Student Assessment (PISA), que procura medir as capacidades de leitura e de literacia matemática e científica dos jovens com 15 anos nos 34 países da OCDE.
Um dos professores explica ao investigador aquilo que considera importante na educação dos jovens: “Compreender as razões por detrás das coisas, ler, sonhar, falar, encontrar soluções por si próprio.”
Na Finlândia as salas de aula são pequenas, as turmas têm cerca de 20 alunos e o ambiente é íntimo e relaxado, com as crianças a tratar os professores pelo primeiro nome. Há menos aulas expositivas durante o dia e mais tempo para atividades de projeto e para aprofundar as aprendizagens.
Segundo João Barroso, aquilo que os empregadores hoje valorizam no estudante – mais do que aquilo que ele sabe – “é a capacidade que ele tem de aprender coisas novas, de se adaptar às situações, de produzir conhecimento, de interagir”.
Um currículo caracterizado pela transdisciplinaridade permite trabalhar a operacionalização dos conceitos, explica João Barroso. No ensino tradicional, geralmente é aí que está o problema – o aluno quer utilizar o conhecimento na sua vida prática e não sabe como fazê-lo.
Para o investigador, “os trabalhos desenvolvidos com recurso às TIC, uma vez que disponibilizam um grande volume de informação, desenvolvem a capacidade de selecionar informação, de tratá-la e de ser capaz de utilizá-la de maneira organizada para um objetivo imediato”.
Para Vítor Teodoro, aquilo que distingue um bom profissional de um mau profissional é a autonomia. “Quando me perguntam o que é que eu quero que os alunos sejam, respondo: “Mais autónomos e capazes do que eu próprio”.”
https://www.publico.pt/temas/jornal/quando-a-escola-deixar-de-ser-uma-fabrica-de-alunos-27008265